sábado, 1 de dezembro de 2012

Crítica – Zé Carioca 70 anos - Volume 1


Henrique Jacob
O personagem foi criado em 1942 por Walt Disney durante uma visita ao Brasil, em que o artista veio a pedido do governo americano com o objetivo de estreitar as relações entre os países da América Latina e os Estados Unidos para ganhar apoio durante a Segunda Guerra Mundial. Essa ação diplomática conhecida como política da boa vizinhança resultou na criação do papagaio durante a estádia de Disney e sua equipe no Rio de Janeiro.
Desde sua primeira aparição no filme Alô Amigos ao som da canção Aquarela do Brasil de Ary Barroso, o Zé Carioca conquistou o público com seu jeito malandro, carismático e bem humorado. Após muitos anos, a editora Abril compilou diversas histórias para mostrar a evolução do personagem na edição especial Zé Carioca 70 anos. O primeiro volume desse especial traz todas as tiras de jornal em que o papagaio apareceu e algumas tramas das décadas de 40, 50 e 60.
A compilação é competente e abrange um vasto conteúdo de histórias mostrando as mudanças que o personagem sofreu durante os anos. A melhor parte da edição são as tiras de jornais que duraram entre 1942 e 1944 que são interligadas por uma trama bem engraçada, que prende a atenção do leitor pelos diálogos bem humorados e as situações inusitadas escritas pelo autor Hubie Karp. É muito interessante ver como Zé começa a mentir para conseguir algo e depois tem que criar outras para sustentar a primeira. A maneira como ele inventa e representa suas farsas também contribuem para atrair a atenção do leitor durante a história e instigam a curiosidade para descobrir como isso irá terminar.
Os bons desenhos de Bob Grant e Paul Murry também agradam pela diversidade e riqueza de detalhes, que para época eram muito bem feitos. O trabalho da editora em recolorir digitalmente os quadrinhos também contribuiu para melhorar os tons das cores e tornar mais agradável e bonito o aspecto visual da edição, valorizando assim o conteúdo.
A influência de algumas manias da sociedade daquele período também podem ser vistas no visual do papagaio, como o chapéu e o charuto que o personagem fuma em diversos momentos. É interessante ver como naquele contexto histórico o ato de fumar era considerado algo sofisticado e elegante, sendo utilizado até por personagens de histórias infantis. É possível notar que nos contos da década de 60 utilizados na edição, o protagonista fuma com menor freqüência, demonstrando que algumas mudanças na sociedade já estavam influenciando os quadrinhos.
As fases do personagem nas décadas de 40, 50 e 60 contam com um bom conteúdo, mas que não se compara em qualidade com as tiras de jornal apresentadas logo no início da edição. O fato de serem escolhidas histórias únicas e sem ligação dessas décadas acabam prejudicando um pouco o envolvimento do leitor com a trama e principalmente pelo fato da maioria das vezes o enredo ser superficial em alguns momentos. Um exemplo disso é quando Zé retorna ao Brasil e ninguém mais o reconhece, para tentar mudar isso ele convida os amigos dele da Disney para passar o carnaval em nosso país, o desenrolar do enredo é previsível e não possui muito humor.
O trabalho realizado pela editora Abril para contar detalhes de cada período do personagem e mostrar curiosidades sobre as mudanças de cada época são ótimos para quem nunca leu nada sobre o Zé Carioca ou até mesmo para quem desejava conhecer mais sobre ele, porque apresentam diversas informações relevantes sobre o papagaio. O design da capa da primeira edição ficou excelente com as cores verde e amarelo com a parte central metalizada dando um ar de sofisticação e beleza para o volume. Além disso, a imagem do protagonista e as letras estão em relevo, o que agrada bastante pela qualidade.
Um dos problemas do personagem é a presença de algumas características baseadas em estereótipos que os estrangeiros pensam do povo brasileiro. Essa tendência de achar que o Brasil é só carnaval e que o povo é malandro pode ser notada na edição, mas sempre misturando o bom humor com um tom infantil, o que minimiza essa visão deturpada do nosso país. Em algumas histórias principalmente naquelas que envolvem o carnaval dá para se notar que os autores não conheciam quase nada de nosso país e se basearam no estereótipo daquela época.
Apesar de algumas falhas, o primeiro volume de Zé Carioca 70 Anos é uma ótima oportunidade pelas tiras de jornais, por mostrar a evolução histórica e por um bom conteúdo que agrada crianças e adultos. Vale a pena ler para conhecer mais sobre o personagem e se divertir com suas confusões e planos.

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